Lei determina fim da dupla função do motorista

O prefeito Marcelo Crivella sancionou a lei que proíbe a dupla função de motorista e cobrador nos ônibus, mas a medida ainda não foi regulamentada pelo Executivo e não há um prazo estabelecido para que entre em vigor. Segundo a norma, os coletivos com sistema de biometria também terão que ter cobradores.

O vereador Reimont Luiz (PT), autor da proposta, informou que negocia com a Prefeitura e a Casa Civil para que seja publicado o Decreto que regulamenta a lei dentro do prazo regimental, que já está esgotado.

Reimont destaca que quem anda de ônibus sabe que o serviço não melhorou, até piorou, e nem as passagens ficaram mais baratas. “Os trocadores foram substituídos pelo trabalho dobrado dos motoristas, cujos salários não aumentaram. Só quem ganhou foram os donos das frotas”, completa.

Dupla função afeta a saúde dos rodoviários

A dupla função põe em risco a segurança da viagem, dos usuários e dos pedestres. Além de dirigir, cumprir o tempo do percurso e cota de passageiros, os motoristas têm de atender os que pagam em dinheiro, conferir a identidade de quem tem direito a gratuidade, vigiar a porta traseira, liberar a catraca e ainda prestar contas aos fiscais.

O cobrador atua como um auxiliar do motorista. Ele não só recebe o dinheiro. Entre outras obrigações, ele aciona o elevador para a acessibilidade dos cadeirantes, verifica as gratuidades e as portas de saída do veículo. De acordo com o vereador, dos desempregados da cidade, cerca de nove mil são cobradores demitidos nos últimos anos. A maioria, mulheres. “São nove mil famílias em grave situação de empobrecimento. Essas pessoas não foram demitidas por causa da automação, mas por uma suposta modernização”, comenta Reimont.

A diretora do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro (Sintraturb-Rio), Angela Maria Lourenço, de 44 anos, conta que adoeceu com o acúmulo de tarefas. “Tive um colapso nervoso, discuti com uma passageira e larguei o carro lotado, chorando”, relata. Angela é motorista há 23 anos, depois do ataque de nervos, teve de se submeter a um tratamento com psicólogos por dois anos. “Meu nível de estresse estava muito alto. Era muita coisa para eu me preocupar enquanto dirigia. Fiquei quatro meses sem conseguir falar com ninguém, em depressão”, lembra. A rodoviária disse ainda que teve outros problemas de saúde causados pelo exercício da profissão. “Dirigimos carros velhos, sem ar-condicionado, o trânsito é caótico. Não podemos falar nada”, desabafa.

Secretário demonstra desconhecer a lei

O novo secretário Municipal de Transportes do Rio, o coronel do Exército Diógenes Dantas Filho, em entrevista à Radio CBN demonstrou desconhecer que a legislação não está sendo cumprida. “O cobrador não está proibido. No mundo, hoje em dia não se usa mais o cobrador, é tudo digital. Você vê que até nos outros países isso não existe, e no posto de gasolina é você quem abastece. Mas o cobrador existe. Tem até uma ordem judicial proibindo multar quem não usa. Não existe proibição de trocador, então para mim está tudo normal”, disse.

Foto: Fotos Públicas/Tomaz Silva.

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