Exclusivo: Vereador critica intervenção da Prefeitura no BRT

O presidente da Comissão Especial criada para acompanhar a intervenção da Prefeitura no BRT, vereador Atila A. Nunes (MDB), afirma que o desfecho da medida frustrou as expectativas de que haveria melhoria no serviço. “A insatisfação continua no mesmo nível de antes, não só no nosso entendimento, mas nas consultas a usuários e nas diversas notícias dos telejornais. A verdade é que a população vive um pesadelo no serviço do BRT, principalmente, na hora do rush”, dispara o parlamentar.

Na opinião de Atila Nunes, os interventores entraram para corrigir as falhas, mas no meio do caminho, quando perceberam que não teriam condições para fazer qualquer melhoria imediata, mudaram o objetivo, que passou a ser única e exclusivamente fazer um diagnóstico.

“A impressão que tenho é que os interventores, principalmente no início, fizeram quase um laboratório para tentar resolver algumas situações, como a do calote, em que fizeram modificações, quebraram a muretinha das estações. Essa ação colocou em risco o passageiro, que poderia cair entre o terminal e o ônibus ao embarcar”, cita o vereador.

Para ele, o diagnóstico dos problemas do BRT não deveria ser a finalidade da intervenção, mas, sim, a melhoria do sistema. “De que adianta você ir ao médico, receber um diagnóstico, mas não iniciar o tratamento? Toda a informação é útil quando serve para dar início a uma mudança”, conclui. 

Atila Nunes ressalta que um dos problemas que precisa de solução imediata é o do sucateamento da frota, que envolve investimentos por parte da Prefeitura e das empresas que operam o sistema. “Em primeiro lugar deve estar o cidadão, o passageiro, que paga a passagem dele e os impostos. Esses recursos podem ser recuperados posteriormente. O que adianta esse jogo de empurra entre Prefeitura e empresas?”, critica.

O vereador destaca que o BRT foi concebido para que houvesse uma previsibilidade de tempo de deslocamento e maior conforto para os passageiros, mas o que se vê no dia a dia das estações é o contrário. “Os relatos são contundentes, é quase um UFC para entrar no ônibus. Não se pode colocar mulheres para ficar ali quase que trocando tapas com homens. As pessoas estão se ferindo para entrar em um ônibus. O usuário quer ter dignidade para chegar ao seu trabalho e sem atrasos”, analisa.

Futuro do TransBrasil

O parlamentar lembra que o ex-interventor nomeado pelo prefeito não titubeou ao afirmar que seria impossível o corredor Transbrasil ser inaugurado em dezembro. “É irreal prometer que o BRT Transbrasil vá iniciar sua operação até o final deste ano já que o prazo para a fabricação de um ônibus articulado é de seis meses e até agora nenhuma encomenda foi feita”, alega.

Ele acrescenta que hoje existe um déficit enorme do sistema e que é impossível deslocar ônibus de outros corredores, para atender o Transbrasil. O vereador lembra que nem mesmo o projeto que define todas as estações não está 100% fechado. “Estamos em meados de agosto, caminhando para setembro. Em quatro meses como é possível resolver tudo isso?”, questiona.

Próximos passos

O parlamentar explica que, o pior ao término do processo, é que foi realizado um acordo do prefeito Marcelo Crivella com o Rio Ônibus (Sindicato das Empresas de ônibus do Rio), que nem o próprio ex-interventor Luiz Alfredo Salomão concordou.  “Ao contrário, deixou bem claro na nossa reunião, que, inclusive, é pessimista quanto aos resultados que serão alcançados nessa nova fase da concessão”, revela Atila Nunes. Ele ressalta que a preocupação em relação à eficácia do contrato aumenta ainda mais quando nem o próprio interventor, nomeado por Crivella, acredita na solução dada pelo prefeito no pós-intervenção. “Nós, vereadores ou, pior ainda, os usuários que sofrem com o serviço, o que podemos esperar disso?”, comenta.

Por causa da falta de transparência no acordo, o prazo da comissão será prorrogado até dezembro. “Surgiu a necessidade de aprofundarmos o trabalho da comissão para entender qual a natureza jurídica dessa pós-intervenção”, afirma.  O objetivo é assegurar ao usuário do BRT e ao carioca de que as melhorias que cabem às empresas serão feitas e a Prefeitura fará os investimentos necessários no sistema. “Não há garantia nenhuma porque não está claro qual é a punição que será aplicada se isso não se concretizar. Infelizmente, toda a relação contratual tem de prever uma punição”, ressalta.

Elogios para ao modal BRT

Átila Nunes ressalta que, apesar da complexidade, do sistema de transportes do Rio, a cidade adotou soluções consagradas no mundo inteiro. “Parece que tentamos inventar uma moda aqui, mas o BRT funciona com êxito em várias metrópoles do mundo”, informa.

Além de ser um sistema aclamado em outros países, a construção do BRT é mais barata do que a do metrô. Segundo o vereador, para cada quilômetro de metrô, pode-se fazer dez quilômetros de BRT. “Quem não prefere metrô? Mas temos de entender o que é viável. Há trechos do corredor Transoeste, onde não caberia o metrô, por falta de densidade populacional”, afirma.

A pergunta é: se o BRT é um transporte de massa com bom desempenho em grandes metrópoles por que aqui não está dando certo? O que aconteceu para ele se degradar e desandar do jeito que desandou? Para o presidente da Comissão Especial, essas questões precisam ser estudadas. “Boa parte do que tem de ser feito é obrigação da Prefeitura, como a manutenção do sistema e os investimentos necessários, que não vão cair do céu”, afirma.

Foto: Divulgação

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