O que esperar dos transportes públicos na pós-pandemia

O isolamento social devido à pandemia da Covid-19 provocou, segundo a Fundação Getulio Vargas, uma queda de 72% na demanda por ônibus no Rio. Com a reabertura das atividades, os operadores terão de enfrentar desafios, para atender os passageiros com qualidade e segurança. Entre eles, a ampliação da frota operante, higienização dos veículos e a redução do número de passageiros transportados. O Estação Rio ouviu seis especialistas sobre essas exigências para a manutenção do serviço, que é essencial para a volta ao novo normal.

O deputado Eliomar Coelho (PSOL) lembra que, apesar de entregue a concessões privadas, os transportes ainda são serviços de interesse público. Por isso, segundo o parlamentar, a crise seria uma oportunidade de revisitar a política do setor. Segundo Coelho, nada foi feito para racionalizar a oferta e diminuir os custos do sistema, por meio de uma integração entre os vários tipos de transporte, e com coordenação. “Haverá uma necessidade de um grande plano para promover as adaptações necessárias”, destaca o deputado que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Transportes da Alerj.

O coordenador do Fórum Permanente de Mobilidade Urbana do Rio de Janeiro, Licinio M. Rogério, aponta falhas operacionais, como, a má distribuição das linhas no município e a falta de integração, que precisam ser corrigidas para melhorar o atendimento. Além da redistribuição das linhas, Licinio Rogério sugere a criação do Bilhete de Integração Mensal (BIM). “Insisto na proposta do BIM, com o qual, pagando uma tarifa mensal, os passageiros poderão usar todos os modos de transporte, sejam municipais ou estaduais, por um mês inteiro, sem limitação de viagens”, explica Licinio.

Desemprego de rodoviários

O presidente do Sindicato dos Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac), Rubens dos Santos, ressalta que a cada ano o setor vem encolhendo e o desemprego da categoria aumentando. “Agora com a pandemia, só em maio, tivemos em nossa base, que compreende 13 municípios, 2.024 demissões”, informa Rubens. O presidente do Sintronac alerta que, pelo menos, cinco empresas, na base do sindicato estão quase falindo. “As empresas maiores podem suportar, bem ou mal, um impacto desse nível, mas as menores nos preocupam muito. Afinal, uma empresa fechada significa milhares de famílias desemparadas”, detalha Rubens. Para ele, a saída para evitar demissões é o diálogo entre empresas, governos e trabalhadores.

Para o professor da PUC-RJ, José Eugênio Leal, a ação mais importante na crise é recuperar empregos. Na opinião do engenheiro, devem ser criadas linhas de crédito para ajudar a manter o sistema. “Mais ainda deve haver crédito para completar obras de infraestrutura como o BRT Transbrasil e multiplicar corredores exclusivos pela cidade”, acrescenta.

Aumento de tarifas

Com a regra de que as linhas transportem menos passageiros, em respeito ao distanciamento social, as empresas terão de aumentar a frota em circulação. Essa restrição poderá pressionar a elevação das tarifas já que o cálculo é feito com base no custo do sistema dividido entre os passageiros pagantes.

Para o presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha, o valor da passagem necessário para atender essa necessidade imposta pela pandemia seria impraticável para o usuário. “O que está em jogo é o auxílio financeiro do poder público para as empresas. Sem esse socorro e com o prejuízo que já existe, não há tarifa que resolva”, alerta Cunha.

O coordenador Regional da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), William de Aquino, reforça que, nesse modelo de custeio do sistema, a melhoria da qualidade do serviço é financiada somente pelo próprio passageiro. “Maior número de ônibus colocados em circulação, menores lotações nos veículos e menores tempos de viagem elevariam a tarifa para valores absolutamente irreais para serem suportados pela maioria da população”, comenta William de Aquino. Para ele, a saída é implantar políticas tarifárias que contemplem subsídios.

Foto: Divulgação

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