Segurança no trânsito, cidadania, ética e conscientização

Eva Vider

O Trânsito está diretamente relacionado ao conceito de cidadania, por ser uma atividade humana e de interação social. Para atender às suas necessidades e interesses, as pessoas se deslocam pelo espaço urbano, e a maneira como as pessoas participam individualmente do trânsito é uma questão social e política.

O trânsito é uma construção coletiva de participações pessoais dos moradores de uma localidade, como pedestres, ciclistas, condutores de veículos, motociclistas ou passageiros.

O espaço público é o território de constituição das pessoas e suas crenças e valores sociais. Trata-se de compartilhamento e não divisão do espaço urbano. A cidadania e a ética precisam ser o eixo da educação no trânsito.

O Código de Trânsito Brasileiro é um acordo social, que as pessoas sabem que existe, embora não o conheçam na íntegra. A escolha de fazer ou não uso das regras está ligada aos conceitos de ética e cidadania e é um fator estritamente humano.

O ato de circular envolve diversos elementos pois todos somos cidadãos e devemos respeitar as necessidades dos outros, tanto como pedestres, motoristas, ciclistas, motociclistas ou passageiros de qualquer veículo, pois, todos temos o mesmo objetivo que é o de chegar ao nosso destino de forma rápida, segura, confortável a um custo compatível com nossas possibilidades.

O Programa Educa – Educação para a Mobilidade Consciente, do Observatório Nacional de Segurança Viária, prevê a inclusão do tema Educação para o Trânsito no ensino fundamental, de forma transversal nas matérias tradicionais”

Portanto é importante que haja colaboração e respeito e que, na busca da concretização do direito constitucional de ir e vir, um indivíduo não impeça o outro desse direito. A conscientização no trânsito é um reflexo da educação recebida, sendo os pais e outros responsáveis mais diretos dos educandos peças essenciais na firmação do cidadão.

Fundamentos da segurança no trânsito se aprende em casa e na escola

Ética e Cidadania se exercem no convívio diário. Quando se trata da educação para o Trânsito, deve-se considerar também as políticas públicas de mobilidade, e a responsabilidade pelo processo deve ser compartilhado com toda a comunidade, isto é, alunos, docentes, pais e comunidade do entorno.

Cuidar de si, do outro e do meio ambiente. Segundo elementos da teoria de Lawrence Kohlberg, as crianças podem compreender níveis melhores de julgamento moral, desde que lhes seja explicado, no âmbito da família, da escola e em outras interações sociais, o que mostra que todo indivíduo é capaz de transcender os valores de sua cultura e possibilitar transformações sociais.

Atitudes tais como atender o celular ao volante, avançar o sinal vermelho, jogar lixo pela janela do veículo, não usar cinto de segurança, atravessar fora da faixa de pedestres, permitir crianças no banco da frente, estacionar em local proibido, etc. demonstram que a sociedade brasileira não possui uma cultura educacional voltada para a segurança no trânsito.

Tais maus hábitos no trânsito servem de exemplos dos pais aos filhos e são responsáveis pela formação desses cidadãos.

O Programa Educa – Educação para a Mobilidade Consciente, do Observatório Nacional de Segurança Viária, prevê a inclusão do tema Educação para o Trânsito no ensino fundamental, de forma transversal nas matérias tradicionais.

Transformações sociais se constroem ao longo de gerações e um Programa de Educação para o Trânsito, que se inicie nas escolas fundamentais, certamente contribuirá na elaboração de novas configurações de normas sociais e regras de convivência para uma mobilidade cada vez mais humana.

Tecnologia a favor da educação no trânsito

O uso das novas tecnologias digitais é hoje um fator importante na viabilização da implantação dos programas e ações de Educação no Trânsito, além de serem instrumentos para as necessárias campanhas educativas permanentes.

Em épocas passadas, vários dos programas de educação no trânsito foram descontinuados pela falta de recursos financeiros e de pessoal, pois era necessário o deslocamento de equipes para as cidades, com o objetivo de treinarem os professores e pais de alunos.

Assim, temos a faca e o queijo nas mãos, basta vontade política e engajamento do setor privado para incentivar e apoiar os programas que estão prontos para serem implantados.

A educação é um processo contínuo e permanente, portanto nos ambientes de trabalho, nas empresas e no convívio social, os fundamentos da ética, cidadania e comportamentos no trânsito devem ser seguidos e preservados sempre

Brasil – Semana do Trânsito 2020 (Denatran)

Neste ano de 2020, encerra-se a Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2011 A 2020) proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, na qual os governos de todo o mundo se comprometeram a tomar medidas para prevenir os acidentes de trânsito e reduzi-los em até 50% nesta década.

No Brasil, em função de ações como intensificação da fiscalização (Lei Seca), leis mais rígidas e treinamento de motoristas e aumento do valor das multas, houve uma diminuição de 30% , segundo dados expostos no evento sobre Educação no Trânsito, promovido pelo Denatran, em webinário, durante a Semana de Trânsito de 2020.

Ano 2011 – 43.256 mortes

Ano 2019 – 30.371 mortes

Condutores e passageiros 37,2%

Pedestres 43,7%

Ciclistas 12,4%

Motociclistas 6,7%

Na década passada, as ações tiveram foco no condutor de veículo, e a proposta para a próxima década é ampliar a visão colocando o foco no cidadão.

Em parceria com o Ministério da Saúde e do Observatório de Segurança Viárias, a Educação para o Trânsito será levada para o ensino básico fundamental, através do Programa Educa.

Como exemplo de boas práticas e uso da tecnologia, o Detran-RJ lançou nesta sexta-feira (25/09/2020), Dia Nacional do Trânsito, uma cartilha digital com orientações destinadas aos motociclistas profissionais, fundamentais para a estratégia coletiva de isolamento social.

Nova Década (2021 a 2030) Proteger Pedestres e Ciclistas, favorecer a mobilidade humana e a acessibilidade, o desenvolvimento seguro, saudável e sustentável. Interface entre áreas da saúde e mobilidade urbana. (**)

(**) PNPS Programa Nacional da Prevenção da Saúde promover, articular, mobilizar ações para redução do consumo de álcool e outras drogas, com a co-responsabilização e autonomia da população, incluindo ações educativas, legislativas, econômicas, ambientais, culturais e sociais.

PNATRANS – Visão zero

Fontes:

https://portalservicos.denatran.serpro.gov.br/#/educacaoTransito

http://www.detran.rj.gov.br

*Eva Vider é engenheira de transportes e professora da Escola Politécnica da UFRJ

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