O que 11 candidatos a vereador pretendem mudar no transporte

Na opinião dos 10 candidatos a vereador do Rio e um de Niterói entrevistados pelo Estação Rio, para melhorar a rede de transportes é preciso que seja implementada a integração entre os modais e que a prestação do serviço seja fiscalizada com rigor. Os postulantes a mandatos na Câmara Municipal do Rio e de Niterói querem estudar as planilhas de custo para reduzir o preço das passagens e adequar o serviço à demanda. Todos afirmaram que a mobilidade urbana será prioridade em seus mandatos, caso eleitos.

Os candidatos destacaram como outros temas importantes a cobrança da refrigeração da frota, a passagem gratuita para desempregados, a municipalização do metrô e das barcas para a Ilha do Governador e Paquetá, ampliação do transporte aquaviário, a construção de ciclovias e até uma nova licitação dos ônibus.

Os casos de corrupção do passado, como o da “caixinha da Fetranspor” foram lembrados como uma das causas da atual crise no sistema de ônibus e que devem ser combatidos para não voltar a ocorrer.

Foram entrevistados Roberto Motta (PSC); Pedro Duarte (Novo); Guilherme Cohen (PSB); Chico Alencar (PSOL); JP Farelli (PT); Edmundo Eutrópio (Novo); Jackeline Nascimento (Cidadania); Adriano Bernardo (DC); Paulo Alonso (Republicanos); Wagner Siqueira (DEM); e Daniel Mattos (PODEMOS-Niterói). 

Revisão de contratos e adequação do serviço à demanda

Para Roberto Motta (PSC) é preciso fazer a revisão dos contratos e o redesenho das linhas de ônibus para que sejam realmente integradas com trem, metrô e barcas. Além disso, Motta propõe estudar nova licitação que traga inovação, transparência e redução de tarifas. “O sistema de bilhetagem, hoje operado pela RioCard, deve ser operado pelo município ou por uma entidade independente”, destaca Motta.

A candidata do Cidadania Jackeline Nascimento tem a proposta de criar grupos de trabalhos, com participação da população, que desvendem as planilhas de custos do valor da passagem, que pensem a quantidade de ônibus e vejam onde há linhas sobrepostas. “O sistema de ônibus é essencial, mas entendo que uma das formas de torná-lo mais eficiente é pensar no seu funcionamento conjugado com outros modais, como o metrô, apps, o táxi e a bicicleta”, acrescenta Jackeline.

Guilherme Cohen (PSB) comenta que a curto prazo é preciso discutir a melhor forma de equilibrar as contas das empresas do setor, onerando o mínimo possível o caixa público e sem deixar de gerar serviços essenciais para a população. Cohen destaca que antes da pandemia, o modal com maiores problemas financeiros eram os ônibus. “Sem dúvida, precisamos enfrentar os desafios estruturais, como a refrigeração de toda a frota de ônibus. É preciso conjugar as particularidades da cidade com as tendências internacionais para remodelar o sistema, gerando soluções benéficas para todos”, conclui Guilherme.

Bilhete único para desempregados

João Paulo Martins Farelli (PT) aposta no passe livre como janela para a garantia do direito à cultura, ao esporte e ao lazer. “É absolutamente necessário em uma cidade com tamanha desigualdade socioterritorial. Ainda na linha do transporte público como política social, a instituição do bilhete único para desempregados é uma forma de auxiliar a reinserção dos trabalhadores no mercado”, disse João Paulo. Para ele, a integração dos modais é fundamental: “Estamos falando aqui da Prefeitura do Rio e do governo do estado pactuarem planejamentos de expansão e provisão de serviços de transporte, de modo que o ponto final do ônibus encontra uma estação de metrô e a estação de trem se conecta a um terminal de ônibus”, explica João. 

Estimular a concorrência

Pedro Duarte (NOVO) disse que é preciso pensar em alternativas para que os modais possam se conectar, sem sobrecarregar nenhum dos meios de transporte ofertados e intensificar a fiscalização. “O intuito é o de se construir uma malha mais completa e diversificada para a população”, comenta Pedro Duarte. Segundo o candidato, é preciso que haja mais espaço para que novas formas de transporte – como vans, aplicativos de transporte privado, patinetes, bicicletas e outros meios alternativos – surjam e possam se desenvolver no município, sem grandes burocracias e regulações que impeçam seu funcionamento. 

Segundo Pedro, é preciso inovar para que haja espaço criativo às novas dinâmicas de transporte da cidade, que estimulem a integração entre diferentes modais. “A concorrência tem de ser discutida e estimulada, em prol da oferta de um transporte urbano eficiente no município do Rio”, conclui Pedro.

Municipalização do metrô e das barcas para a Ilha do Governador e Paquetá

Edmundo Eutrópio (Novo) considera urgente entender como está a gestão dos operadores (com prioridade para ônibus e BRT), levantar as planilhas de custos e fazer um diagnóstico das alternativas de contorno da situação que estamos vivendo. “Outro problema que quero atacar é a integração entre as concessões municipais e estaduais, possibilitando que o mesmo cartão seja usado em todos os modais. E uma vez a Prefeitura tendo resolvido os principais problemas, devemos pensar a municipalização do metrô e das barcas para a Ilha do Governador e Paquetá”, resume Edmundo.

Prioridade para o transporte de massa

Chico Alencar (PSOL) lembrou os casos de corrupção no setor de transportes. “Fui vereador da cidade lá no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 e deputado estadual no final dos anos 1990 e via como se falava na tal caixinha da Fetranspor, dos esquemas de financiamento, isso tudo, claro, que afeta, atinge e ataca o interesse público.

Segundo Chico Alencar, o transporte urbano exige mais racionalidade para as linhas, frequência, transparência, planilha de custos, fixação das tarifas. “A Câmara pode ter um papel importante na melhoria da qualidade do metrô, trem, barcas, se articulando com outras prefeituras limítrofes e com o governo do estado”, propõe Chico Alencar. A ideia é criar um espaço voltado para o interesse público de diálogo e compartilhamento de regulamentação do setor. “Se não fizer uma articulação metropolitana, envolvendo câmaras e prefeituras do chamado Grande Rio, avança-se pouco, já que está tudo muito interligado”, justifica.

Outra proposta dele é a de ampliar as ciclovias, como meio de locomoção não poluente e simples.

Recuperação do BRT

Para Adriano Bernardo (DC) uma das medidas urgentes é restabelecer as estações do BRT que estão inoperantes. “O dinheiro que foi investido ali é público. O BRT tem de circular 24 horas. O trabalhador que sai do trabalho a 1h da manhã não pode ficar sem ônibus”, argumenta Adriano.

Segundo Adriano, as empresas que circulam, sobretudo nas regiões mais humildes, têm de voltar a funcionar e aumentar o tempo de integração do bilhete único. “O município tem de discutir o metrô, o trem e a barca, mesmo não sendo da alçada municipal. O parlamentar não pode ficar restrito. Tem de ser o interlocutor entre todos os modais. “No âmbito do transporte, precisamos também discutir as vans, o Uber, o táxi e o teleférico do Alemão, que foi abandonado”, acrescenta Adriano.

Buscar investimentos para o setor

Paulo Alonso (Republicanos) disse que é fundamental reconhecer que o transporte público de passageiros com qualidade, transparência e preços mais baixos, da mesma forma que os outros serviços sociais, como educação e saúde, não cabe no orçamento das prefeituras. “O investimento em transporte depende muito do governo federal, e o estado do Rio não tem qualquer capacidade de investimento, sendo necessária a mobilização para angariar recursos dos três níveis do Poder Executivo. 

Para ele, com a integração entre ônibus, trens, metrôs, barcas e até bicicletas, a população ganha mais opções de locomoção e pode escolher a melhor forma de se deslocar. “O Rio de Janeiro tem todos os modos disponíveis. A questão não é incorporar mais um modo, e sim integrá-los de forma física e tarifária, eficiente, com baixo custo, segurança e conforto.”

Alonso lista ainda outras medidas para melhorar a mobilidade, como fazer a manutenção das calçadas, ruas e avenidas; ampliar as ciclovias; desenvolver hidrovias; optar por combustíveis menos poluentes; implantar o pedágio urbano; mudar os horários de entrada e saída do trabalho; melhorar a logística para reduzir a quantidade de caminhões; e criar corredores que integrem diferentes tipos de meio de transporte.

Criação de gabinete de crise

Wagner Siqueira (DEM) quer criar um gabinete de crise na Câmara, com as secretarias municipal e estadual de transporte, Fetranspor, VLT e outros representantes das concessionárias, a fim de encontrar soluções para a crise nos transportes. “Não só para realizar audiências públicas, que só levantam os problemas, mas propor aos executivos municipal, estadual e federal medidas concretas. Isso pode resultar em projetos de lei, decretos legislativos que intervenham diretamente no problema”, justifica.

Wagner quer discutir também a ampliação do transporte aquaviário. “Na Baía de Guanabara e no complexo lagunar de Jacarepaguá o transporte é precário. Quando as pessoas se sentam para discutir as questões de forma aberta e pública surgem as providências, que podem ser tomadas”.

Para ele, a maior questão de todas é a integração de todos os modais em sentido moderno como existe em todas as capitais e nas cidades mais avançadas do mundo. “O Rio não sai desse enlace que se encontra no transporte público não só por causa da pandemia, que efetivamente as soluções se dão pelo governo federal, mas também por causa da Prefeitura, que tem hoje a política do isso não é comigo”, alega Wagner. 

Construção de metrô em Niterói

Daniel Mattos (Podemos) é candidato a vereador de Niterói. As propostas dele são rever todos os contratos com as empresas de ônibus, lutar por um valor justo de transporte para a Zona Norte da cidade, onde, segundo ele, a população sofre com transporte sucateado e sem ar-condicionado. “Apresentaremos o projeto de construção do metrô e de reestruturação das Barcas, além de fiscalizar as empresas de ônibus, retirando de circulação as que não cumprem com sua obrigação”, afirma. O candidato do Podemos criticou as obras recentes em Niterói. “Foram gastos mais de 450 milhões no Túnel Charitas–Cafubá e em suas extremidades. A construção do Mergulhão na Praça do Renascimento foi feita em parceria com o Consórcio EcoPonte. E o Mergulhão da Marquês de Paraná, realizada pela Prefeitura de Niterói.  Contudo, a Prefeitura de Niterói não se preocupou com os transportes”, disse Mattos.  

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