O Rio precisa de uma bilhetagem eficiente, diz Pedro Duarte

O vereador Pedro Duarte (Novo) concedeu entrevista ao site Estação Rio sobre o processo  caótico de implantação da bilhetagem digital da Prefeitura. O parlamentar cobrou um controle rigoroso para a escolha da operadora do serviço, que precisa ser eficiente e focado nos interesses da população. O vereador criticou a falta de transparência da Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) na condução do processo de bilhetagem e destacou que o Bilhete Único Intermunicipal deveria estar integrado ao novo sistema desde o início do funcionamento do Jaé.

Estação Rio: A Justiça do Rio suspendeu as negociações da venda do controle acionário do Consórcio Bilhete Digital, operador do cartão Jaé, para a Autopass, quarta colocada na licitação. Qual sua visão a respeito dessa questão?

Vereador Pedro Duarte: Isso é mais um capítulo do caos que virou essa licitação da bilhetagem. A Prefeitura do Rio vendeu a ideia de um novo sistema moderno e transparente, mas o que estamos vendo são empresas brigando na Justiça, descumprimento de contratos e um modelo que não decolou. Se a Justiça identificou irregularidades nessa negociação, é mais um sinal de que a Secretaria Municipal de Transporte precisa tomar as rédeas da situação, garantindo que a solução final seja técnica e vantajosa para o cidadão, e não para os grupos que sempre dominam o transporte na cidade.

Estação Rio: A empresa Autopass, pertencente aos empresários de ônibus paulistas, e sua empresa fornecedora de sistema de bilhetagem são processadas por roubo de tecnologia em São Paulo.  Além de outros questionamentos do Ministério Público sobre uma associação chamada Abasp e de operar sem licitação. Isso não representa um risco para a tão propagada transparência manifestada pela SMTR?

Vereador Pedro Duarte:  A SMTR e a Prefeitura falaram muito sobre transparência, mas, na prática, constatamos um cenário nada transparente. Não faz sentido entregar a bilhetagem a uma empresa que já sofre questionamentos sobre sua atuação em São Paulo e que tem ligações com empresários do setor de ônibus. Além disso, foi a quarta colocada na licitação do Jaé. O Rio precisa de um sistema de bilhetagem eficiente, que funcione para os passageiros e não apenas para os interesses de quem opera o transporte. É fundamental que haja um controle rigoroso sobre essa escolha para evitar mais um escândalo.

Estação Rio: O Consórcio Bilhete Digital tem cometido uma série de descumprimentos na operação do Jaé, como atraso no pagamento da outorga e falhas no atendimento à população. A Tacom, que ficou em segundo lugar na licitação, alega que a lei de licitações permite que, no caso de uma empresa ter dificuldades para cumprir com o que foi prometido, o contrato pode ser extinto, e a segunda colocada pode ser convocada para assumir a operação. Essa poderia ser uma saída para resolver a questão?

Vereador Pedro Duarte: Sim, poderia, desde que a gente não repita os mesmos erros da implementação do Jaé. A segunda colocada tem condições de assumir? Os problemas de integração com os demais modais já estarão resolvidos? O transporte já tem problemas demais para ainda termos que lidar com uma bilhetagem confusa e instável.

Estação Rio: Os sócios do CBD tentam se livrar dos problemas do Jaé; a Tacom pleiteia o lugar; a Billing Pay, fornecedora da tecnologia, exige o direito de preferência para permanecer na operação; e a Autopass enfrenta ações judiciais em São Paulo, além de fazer parte do mesmo grupo de empresários de ônibus. A SMTR vem adiando sucessivamente a operação exclusiva do Jaé, a adesão à nova bilhetagem é de ínfimos 3,62% dos pagantes. Não seria melhor e mais barato fazer uma rigorosa auditoria na RioCard no mesmo modelo proposto para o Jaé?

Vereador Pedro Duarte: É uma opção, sim. O ideal seria uma operadora desvinculada das empresas de ônibus, como um “terceiro não interessado”,  desde que haja competência na implementação e que não seja apenas trocar seis por meia dúzia, um conglomerado pelo outro. Para ser assim, melhor ficar na governança e fazer auditoria do sistema que já está rodando.

Estação Rio: Se menos de 4% dos usuários do transporte municipal utilizam o Jaé, a falta de acordo com o governo do Estado para viabilização da interoperabilidade do benefício não pode soar como uma desculpa para os problemas do Jaé?

Vereador Pedro Duarte: Com certeza. O Bilhete Único Intermunicipal poderia estar integrado ao novo sistema desde o início, mas a Prefeitura e o governo do Estado não se entenderam. Esse impasse prejudica o usuário, que fica sem um sistema confiável e eficiente. É mais um exemplo de como a gestão do transporte no Rio é feita de forma descoordenada e sem foco no cidadão. A Prefeitura deveria priorizar o que realmente melhora a vida do carioca, em vez de insistir em desculpas e soluções incompletas.

Foto: divulgação.

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