A caixa-preta do Eduardo Paes
O novo sistema de bilhetagem da Prefeitura do Rio foi implantado com o compromisso de aumentar a transparência e conferir maior controle na arrecadação das tarifas. Entretanto, em dois meses de operação exclusiva nos transportes municipais – de agosto a outubro – a realidade é outra. As reclamações dos usuários recebidas pelos órgãos de fiscalização comprovam que a promessa não foi cumprida.
Vencida a etapa tumultuada de obtenção do Jaé no prazo estabelecido pela Prefeitura do Rio, os relatos de sumiço de créditos no cartão, desconto de passagens em dobro, demora na entrega, e mau funcionamento do QRCode são frequentes. Em relação ao vale-transporte, as empresas denunciam que as recargas comprovadas por boleto bancário não foram validas pelo sistema de bilhetagem.
Os problemas não param por aí. Usuários do Jaé denunciam a clonagem e furto de créditos. Eles contam que valores desapareceram sem que eles usassem os cartões. A perda de tempo para fazer a reclamação e a demora para reaver o dinheiro ultrapassam o prejuízo financeiro.
Como o caso da professora Gabriella Estevam, exibido na matéria do Bom Dia Rio, nesta segunda-feira (06/10), em matéria arrasadora contra o Jaé. Segundo Grabriella, 29 passagens foram debitadas no seu cartão sem que ela usasse. O equivalente a R$ 400. Ela relata que fez o registro no Reclame Aqui e no e-mail do Jaé, e teve de ir à loja três vezes para acompanhar o pedido. Ainda teve de comprar o cartão verde e bloquear o preto, que ela usava. No aplicativo, ela percebeu que a foto associada ao cartão havia sido substituída pela de outra pessoa.
De acordo com o site Reclame Aqui, nos últimos seis meses, foram registradas 8.165 reclamações sobre o Jaé.
A Câmara do Rio também recebe queixas sobre o mau funcionamento do novo cartão. No fim de setembro, o vereador dr. Rogério Amorim (PL) encaminhou Requerimento de Informações à Mesa Diretora da Casa, para notificação da Secretaria Municipal de Transportes. O parlamentar indaga qual a justificativa que a operadora do cartão apresentou para as queixas dos usuários e quais as providências adotadas para sanar as falhas do cartão.
A pergunta é: Aonde foi parar esse dinheiro debitado indevidamente dos cartões? Além da falta de transparência, a falha mexe diretamente no bolso do passageiro, que, se não dispor do dinheiro para pagar a passagem, ainda passa pelo constrangimento de ter de desembarcar do transporte. Apesar de, comprovada a queixa o valor ser ressarcido, a transparência e o controle do serviço deixam a desejar. O mau funcionamento do Jaé tem consequências graves no cotidiano dos passageiros, na prestação de um serviço fundamental para garantir o direito de ir e vir da população.
Ao que tudo indica, a decisão do prefeito de inviabilizar o funcionamento cooperativo dos cartões Jaé e Riocard suscita que Paes pensou com o fígado cheio de fel e não com a ética da responsabilidade que deveria pautar seu cargo público. Talvez ainda haja tempo para injetar um pouco de racionalidade na gestão do transporte urbano da cidade. Mas Paes escalou demais, argumentando menos, omitindo informações das negociações do Jaé e trocando a elegância do bom debate por xingamentos e impropérios.
A circulação dos ônibus usando os dois cartões, reduziria o número de queixas do usuário, que teria a opção da escolha em função da sua livre e soberana vontade. A probabilidade é baixa, mas ainda que com um tempo minúsculo haveria margem para Paes recuar e conduzir uma rearrumação da sua desarrumação do sistema de bilhetagem que trouxesse o assunto para um jogo de ganha-ganha. Afinal, o que interessa é a implementação do melhor serviço para atender a população da cidade do Rio.
Editorial Estação Rio
Foto: Divulgação.
