Moradores de Santa Teresa querem bonde como principal meio de locomoção
As medidas necessárias para que o bonde de Santa Teresa seja o principal transporte público do bairro e as condições de funcionamento do modal foram alvo da diligência desta quarta-feira (20/6) da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Transportes, da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj). O presidente da Associação de Moradores de Santa Teresa, Paulo Saad, propôs que a Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (Central) faça um levantamento das obras de reparo e manutenção da estrutura e das composições. “Queremos um estudo proativo sobre a operação, com segurança, dos bondes antigos, que poderão trafegar nos trilhos e usar a rede aérea já existente, aumentando o percurso que hoje é de 4 quilômetros”, reivindica Saad.
Para a moradora do bairro, Vaniza Pinto, a função do bonde foi desvirtuada e só atende aos turistas. “É um transporte para passeio turístico. Os trabalhadores e as pessoas que vêm visitar os amigos e a família ficam prejudicados porque têm de pagar R$ 20,00 pela passagem. Isso é um absurdo”, critica. Cláudia Schuch completa que o horário de funcionamento das 8h30 às 17h45, com intervalos de 15 minutos e o curto trajeto da estação Carioca ao Largo do Guimarães são insuficientes para atender a demanda diária de usuários. “Para se cadastrar e não pagar passagem, é preciso apresentar o comprovante de residência. Pessoas que moram em comunidades não têm esse documento, ou seja, estão excluídos”, comenta.
O presidente da CPI dos Transportes, deputado Eliomar Coelho (PSOL), pediu que a Central, operadora dos bondes, apresentasse um planejamento físico-financeiro para recompor os serviços de transportes do bairro. “Em outras épocas, o bonde funcionou. O estado tem de se mexer. A tarifa cobrada dos usuários não pode custear tudo. O preço é absurdo, um Uber sai mais barato”, critica Eliomar.
O deputado Nivaldo Mulim (PR), integrante da CPI, criticou o horário de circulação dos bondes e dos ônibus em Santa Teresa. “Os moradores reclamaram que não têm transporte à noite. É preciso também colocar mais coletivos circulando”, acrescenta. Os moradores querem de volta também as duas linhas de ônibus, com tarifa de R$0,80, que atendiam ao trajeto que o bonde não está fazendo. Há oito meses os coletivos foram retirados de circulação. A operação foi implantada graças a um acordo entre a Prefeitura e a Secretaria estadual de Transportes, que rompeu o contrato.
O presidente da Central, Rogério Azambuja, disse que os bondes antigos não estão circulando porque não têm os itens de segurança. “Operamos com três bondes e mais dois de reserva. Estamos há mais de 160 dias sem problemas técnicos. Com a tarifa arrecadamos R$ 120 mil por mês. Esse valor é usado na manutenção e para melhorias no sistema”, explica Azambuja. O percurso original era de 10 quilômetros e no projeto de recuperação das linhas eram previstos 14 bondes.
Acidente tirou bonde de circulação
O bonde de Santa Teresa voltou a circular em 2015, depois do acidente em agosto de 2011, que deixou seis mortos e 56 feridos. Uma falha no sistema de freios fez o bonde, que seguia para a Lapa, bater num poste, na Rua Joaquim Murtinho, e tombar. O laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) apontou diversos problemas de manutenção: falta de conservação dos cilindros, desgaste do compressor e uso de peças remendadas.
Foto: Rafael Wallace