Problemas do BRT se agravam e persistem após a intervenção

A Comissão Especial de Acompanhamento da Intervenção do BRT, da Câmara Municipal, buscou nesta quinta-feira (17/10) o coração das trevas do transporte urbano – a Av. Cesário de Mello – à procura de soluções voltadas para reduzir os horrores da região. No eixo do corredor Transoeste, que liga Santa Cruz a Campo Grande, as 22 estações estão desativadas desde o ano passado, depois de serem invadidas por traficantes, depredadas e vandalizadas. Na parada Cesarão I, no Centro de Santa Cruz, todos os equipamentos foram retirados e o abandono é total. A região apresenta altos índices de criminalidade, e a reabertura das estações está condicionada a investimentos na área de segurança e fiscalização por parte da Prefeitura.  O vereador Willan Coelho (MDB), relator da Comissão, lembrou que um dos compromissos da intervenção seria a volta da operação dos ônibus articulados na via. “No final da intervenção, um dos itens que a Prefeitura iria dar prioridade seria a reabertura do BRT nesse trecho da Cesário. Esse acordo foi feito em julho e nada realizado até agora. As estações continuam abandonadas”, constata o parlamentar.  Willian Coelho disse que, se não houver uma ação do município, vai enviar a solicitação ao Ministério Público. “O próximo passo é montar um relatório de tudo que foi conferido nessas vistorias e encaminhar para o Ministério Público, para que o órgão cobre uma resposta”, informa o parlamentar. Ele ressalta ainda que uma das falhas do acordo é que não foi determinada uma data para a execução das propostas de mudança no sistema. “Quando o acordo da Prefeitura com o consórcio foi divulgado, não foi estabelecido um prazo para o início das obras de recuperação das estações, do asfalto e nem quando colocariam mais ônibus”, lembra.

Além da Cesarão I, a equipe vistoriou as estações Pingo D’Água e Mato Alto, para verificar as reclamações de superlotação, intervalos irregulares, ônibus que circulam sem ar condicionado, abandono das estações e a precariedade do asfalto das pistas do BRT Transoeste.  A cozinheira Margarete Azevedo, que mora próximo à estação Pingo D’Água, disse que  desistiu de embarcar no BRT na hora do rush por causa da superlotação. “O serviço é péssimo, é impossível entrar nos ônibus das 7h às 9h, a maioria não tem ar condicionado e demora a chegar. A opção para ir trabalhar é pegar o frescão, que custa R$ 17”, relata a usuária. O vereador Atila Nunes (MDB), que preside a Comissão, acrescenta que a parada foi subdimensionada e precisaria ser ampliada para atender ao público. “O que era para ter o mínimo de conforto se torna desumano. Isso está comprometendo a empregabilidade das pessoas que usam esse sistema”, lamenta Átila Nunes. Ele constatou que a Pingo D’Água sofre com os mesmos transtornos de antes da intervenção. “Só ficaram, no máximo, 30% dos vidros, os monitores estão desligados, com fios aparentes, que dão a sensação de abandono, com esgoto jorrando na entrada”, enumera Nunes. Ele destaca que, por causa das más condições das pistas, os ônibus articulados têm a vida útil reduzida. “O próprio relatório do interventor indica que a Prefeitura está falhando na manutenção do asfalto; esse quesito é responsável pelos danos aos ônibus, que são retirados de circulação e acabam gerando esse caos de superlotação”, aponta o vereador.

O parlamentar afirma que há outras estações do corredor Transoeste em situação pior, como, por exemplo, a Golfe Olímpico e a Rio Mar, que foram invadidas por sem-tetos.  “A Prefeitura não atende nenhum dos dois lados. Não dá o acolhimento necessário às pessoas em situação de rua e não deixa as estações organizadas, para utilização do público”, comenta Nunes.

Na estação Mato Alto, os vereadores verificaram a necessidade da construção de um terminal rodoviário para atender aos passageiros que embarcam nas linhas alimentadoras. “Em um dia de chuva, em que as pessoas estão indo ou voltando para o trabalho, não  há onde se proteger, pegar seu ônibus com dignidade. A cobertura dos pontos de ônibus é muito pequena e está completamente destruída”, comenta Willian Coelho. Ele acrescenta que já existe o projeto na Prefeitura de se construir um terminal rodoviário tanto na estação Mato Alto como na Magarça, que são as estações que concentram o maior número de pessoas. “Mas está tudo parado”, reclama o vereador.

Presidente do BRT responde às demandas

Depois da vistoria, o presidente executivo do BRT, Luiz Martins recebeu os parlamentares no Centro Operacional do BRT, no Terminal Alvorada. Martins disse que trabalha com a Secretaria Municipal de Transporte (SMTR) para que o eixo da Av. Cesário de Melo volte a funcionar. “É uma grande preocupação nossa reocupar aquele espaço, botar os ônibus para rodar na calha, reintegrar esse corredor ao sistema, para que a população daquela região possa ser assistida”, revela Martins.

Martins acrescentou que atua com o município para resolver as demandas. “A Prefeitura vai fazer uma licitação, para recuperar o asfalto que está deteriorado, para que os ônibus possam rodar nas calhas”, informa. Ele explica que, quando um ônibus articulado quebra e tem de ser retirado de circulação, deixa de transportar 180 pessoas. “Já devolvemos 14 ônibus à população; na próxima semana vamos devolver mais 10. Vamos comprar novos ônibus e reinseri-los no sistema”, destaca. Martins acrescenta que os sete ônibus alugados para o Rock in Rio também serão incorporados à frota. “Os veículos vão rodar com um selo provisório, que será fornecido pela Prefeitura e, na semana que vem, estarão operando”, ressalta.

O presidente executivo do BRT disse ainda que houve um decréscimo dos usuários do sistema e que há um alto índice de calote. “Temos uma evasão de renda altíssima, que temos de conter; para isso, estamos trabalhando com a Guarda Municipal e a própria SMTR”, destaca Martins. Para ele, a participação da Comissão é importante para a melhoria do serviço. “O BRT é um transporte de massa que facilita bastante a população em seu deslocamento. A integração do BRT, da Câmara e da Prefeitura seria muito proveitosa porque trabalharíamos a seis mãos. Gostaria que a população também contribuísse com sugestões”, conclui Martins.

Foto: Estação Rio

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