Aonde está a ‘caixa-preta’ do transporte público?

O prefeito Eduardo Paes publicou, em suas redes sociais, que o cartão Jaé, do novo sistema de bilhetagem digital, começará a ser usado na próxima quarta-feira (19/07) nos BRTs. O Jaé, segundo Paes, promete facilitar a vida dos passageiros e “acabar com a caixa-preta no sistema”.

Mais uma vez, ao citar a “caixa-preta”, Paes não explica o que seria isso. O termo foi mencionado pelo prefeito 2.398 vezes em entrevistas à imprensa de 2020 a 2023. Em 2020, foram 554 citações na mídia; em 2021, ele fez 793 menções ao termo; em 2022, falou em “caixa-preta” 509 vezes; e nos seis primeiros meses de 2023, Paes repetiu a expressão em 539 ocasiões ao se referir à bilhetagem do Rio.

A cada passo dado em direção à reestruturação do sistema de transportes Paes levanta a questão da “caixa-preta”, como fez na ocasião do acordo firmado entre a prefeitura, as empresas de ônibus e o Ministério Público estadual (MPRJ) e no lançamento do edital da bilhetagem digital.

O argumento do prefeito é de que toda a arrecadação dos transportes deve passar pela Prefeitura. Paes afirma não ter acesso a todas as informações sobre o faturamento e número de passageiros dos ônibus. Ele reitera que só a conexão dos dados em tempo real com a Secretaria de Transportes possibilita o planejamento da demanda.

As explicações para a existência de uma “caixa-preta” não convencem. Os consórcios por força de lei são obrigados a enviar diariamente para análise da Prefeitura os dados sobre o recolhimento de passagens das empresas. Os subsídios que as concessionárias recebem dependem dessas informações.

As demandas do Prefeito para justificar o termo “caixa preta” já foram todas desmontadas pela Fetranspor, atual Semove, que propôs ao alcaide, inclusive, a realização de uma auditoria independente, atitude ignorada como se houvesse motivo para não apuração dos fatos. O Prefeito, verdade seja dita, tem se destacado como um administrador competente, demonstrando desabrido amor pela cidade do Rio. Mas no caso do transporte urbano a falta de transparência e o uso da desabonação vazia para cassação da Riocard, que não pode sequer participar da licitação pela bilhetagem, revela que idiossincrasias podem tingir um trabalho que vinha sendo bem feito.

A crise dos transportes, com a queda de passageiros na pandemia de Covid-19, e o aumento do óleo diesel levaram as concessionárias à recuperação judicial. O aporte financeiro da Prefeitura deu fôlego às empresas para continuar a prestação do serviço. Tudo feito com diálogo e transparência. O deslocamento é um serviço essencial para os moradores da cidade e o passageiro merece qualidade, pontualidade e conforto por uma tarifa justa. Esse objetivo é que precisa ser atingido.

Foto: Divulgação

Editorial: Denise de Almeida

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