BNDES destinará até R$ 3 bi do Fundo Clima para transportes

Durante o webinar Mobilidade Urbana e seu Papel para o Desenvolvimento Sustentável, realizado pelo Integridade ESG na última terça-feira (19/3), Rafael Coutinho Quaresma Pimentel, chefe do Departamento de Mobilidade Urbana e Logística do BNDES, revelou que entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões do montante do Fundo Clima serão destinados aos transportes. Ele citou a quantia ao responder a uma pergunta sobre o plano de aplicação dos recursos de cerca de R$ 10 bilhões, captados no exterior pelo Ministério da Fazenda, na mobilidade.

“Esses recursos atendem a todos os setores do banco que, de alguma forma, estão relacionados à questão climática, como o transporte, que tem um grande impacto sobre o clima”, explicou.

No entanto, ele destacou que, se esses recursos se esgotarem, existe a possibilidade de o Ministério da Fazenda realizar uma nova captação. Trata-se de um recurso mais barato, captado no exterior, que deve ter taxas de 7% a 8,5% fixos ao ano.

Coutinho, que defende a criação de corredores expressos, destacou que o BNDES vai priorizar projetos que têm uma lógica de eficiência do sistema de transporte e demonstrou preocupação em relação ao congestionamento verde.

“Temos muito receio desses engarrafamentos, que são aqueles ônibus elétricos lindos, não poluentes, zero ruído, maravilhosos, mas estão todos parados, congestionados na cidade. É preciso pensar na parte social, porque o tempo de deslocamento é muito importante”, reforçou.

Transporte público precisa de investimento para reduzir uso de veículos privados, reitera Semove

Priorizar o transporte público é o caminho para uma mobilidade mais sustentável, estimulando o uso dos ônibus, que perderam 25% de passageiros entre 2019 e 2022 no Brasil. A declaração foi dada por Eunice Horácio, gerente de Mobilidade Urbana da Semove (Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro).

“A priorização do transporte público coletivo por ônibus é fundamental. Enquanto houver passageiro preso no congestionamento, o transporte público não vai ser atrativo. É preciso ter uma infraestrutura urbana adequada, com pontos de parada com abrigo, bancos e iluminação; enfim, um ambiente urbano propício para que as pessoas usem o transporte coletivo”, explicou a gerente.

Para a gerente da Semove, antes da implantação da eletromobilidade, há muita coisa a ser feita. É preciso pensar, por exemplo, na questão do abastecimento, em como conseguir eletrificar uma frota de ônibus, sem provocar a queda de energia de uma cidade inteira.

Eunice destacou a importância da discussão da questão da taxação do veículo privado, do controle do uso de veículos privados, da gestão de estacionamentos e do congestionamento verde.  “Como falar em mudar a tecnologia veicular se a gente tem problemas de rede? A Mobilidade urbana sustentável é muito mais do que apenas tecnologia”, concluiu.

Transporte privado é a principal fonte de geração de impactos negativos, diz pesquisador do Ipea

Por sua vez, Carlos Henrique de Carvalho, pesquisador e especialista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), afirmou que o grande desafio econômico está na falta de políticas adequadas de precificação das externalidades negativas geradas pelo transporte urbano.

Segundo ele, o transporte privado é a principal fonte de geração de impactos negativos, mas tanto carros quanto motocicletas praticamente não pagam pelos impactos externos que causam à sociedade.

“Isso causa uma distorção do transporte urbano, já que o custo de usar o transporte privado individual fica baixo, enquanto o custo do transporte público, em todas as modalidades, fica alto”, diz Carvalho, que defende um modelo que determine que quem polui mais deve pagar mais.

A discussão tem que ser direcionada para pagamento pelas externalidades negativas geradas pelo transporte individual, completa. “Se não houver uma quebra do modelo de custeio e de financiamento, a discussão para um novo modelo que possa efetivamente trazer vantagens competitivas para o transporte público em relação ao transporte individual, vai ser difícil obter resultados diferentes do que tem se visto hoje em dia em perda de atratividade do transporte público”, sentencia o pesquisador do Ipea.

Marco regulatório foca na infraestrutura

No debate, Francisco Christovam, presidente-executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) e vice-presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), considerou que estamos em um momento de grandes discussões sobre mobilidade urbana.

E, ao ser perguntado se o marco legal da mobilidade urbana vai trazer mudanças positivas, Franciso foi enfático: “Se o marco regulatório ou o marco legal não significar benefício direto para a população que utiliza os sistemas de transporte coletivo urbano de passageiro, ele será letra morta, será um conjunto de normas e regras que vão ficar na prateleira”.

O marco regulatório trabalha linhas possíveis de financiamento, de investimento, os conceitos necessários para que as pessoas tenham a consciência de que produzir serviço de transporte coletivo por ônibus exige tratamento quanto ao tipo de veículo que será utilizado, mas também muito foco na questão da infraestrutura.

“O marco legal só faz sentido se puder ser percebido pela população que utiliza o transporte coletivo de passageiros. De outra forma será somente mais um conjunto de regras e procedimentos sem nenhum valor percebido pela população”, reafirmou Christovam.

Assista na íntegra ao webinar no YouTube ou no LinkedIn do Integridade ESG.

Com informações do Portal ESG

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