Transição energética: Brasil deve seguir caminho próprio

Não existe um caminho único para a transição energética brasileira, tampouco uma solução acabada, pois o país tem condições de desenvolver as soluções mais adequadas à sua própria economia, de modo a atender os três pilares da agenda ESG: ambiental, governança e o responsabilidade social. Esse é o resumo do que foi discutido no webinar Transição energética e combustíveis sustentáveis: o Brasil como modelo, realizado nesta quarta-feira (26/6), pelo Integridade ESG.

O gerente de Planejamento e Controle da Semove (Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro), Guilherme Wilson, apontou alguns desafios da transição junto ao modal mais utilizado do país, que reúne 180 empresas de ônibus no estado do Rio de Janeiro, representando uma frota de mais de 16 mil veículos. Sobre a eletromobilidade, ele ressaltou que é preciso cuidado com a aplicação ao transporte público coletivo, na avaliação para o investimento necessário em infraestrutura.

“Isso é muito significativo na parte de infraelétrica, para a gente abastecer uma garagem hoje com 200, 300 ônibus, você tem que trazer alta tensão. Então, às vezes, aquela garagem vai consumir mais do que um bairro inteiro da localidade. E essa alta tensão não está disponível”, alertou no evento mediado pela editora do Integridade ESG, Cintia Salomão.

Além disso, destaca que, para eletrificar os 100 mil ônibus da frota rodoviária do Brasil hoje, é preciso de 350 bilhões de reais de investimento, calcula.

“É um dinheiro que não existe, impossível de ser apresentado. Não existe fonte de financiamento que financie isso. Nós precisamos caminhar de mãos dadas, na minha opinião, com o biocombustível. Essa é a nossa bandeira hoje. Sem deixar de fazer as eletrificações dentro da dose que cabe a cada cidade, a cada região metropolitana, a cada disponibilidade de orçamento de cada município, de cada estado”.

De acordo com Guilherme, é preciso seguir desenvolvendo novos biocombustíveis por meio de matérias-primas que podem ser as mesmas, entre oleaginosas.

“Se nós pegássemos o óleo de soja que temos, produzíssemos HVO (diesel verde), nós, de forma equivalente, nós estaríamos eletrificando 100 mil ônibus do país, equivalentemente, do ponto de vista de descarbonização”, afirma o gerente.

Diferentes matrizes energéticas podem conviver juntas na transição

Márcio D’Agosto, professor da COPPE/UFRJ e presidente do Instituto Brasileiro de Transporte Sustentável (IBTS) enfatizou que o Brasil tem características bem diferentes de outros países do mundo, com muitas alternativas energéticas interessantes, que inclusive podem ser consideradas também para reforçar o pilar social mas não existe uma solução única.

“Enquanto pesquisador e acadêmico, digo que os diferentes segmentos de transporte precisam ser olhados de forma diferente”, resume.

Para ele, é possível eletrificar determinado segmento do transporte rodoviário de carga e de passageiros, usar biocombustível em outros segmentos e inclusive, manter o óleo diesel em outras áreas da mobilidade que são mais difíceis de fazer a transição, esticando seu uso por mais um pouco de tempo, com uma tecnologia cada vez mais aprimorada. As opções devem ser exploradas da melhor forma, pois existem recursos e capacidades de financiamento diferenciados, enfatizou.

Hidrogênio ainda é incógnita na mobilidade

Ao ser perguntado sobre a utilização do hidrogênio no transporte, ele respondeu que ainda não está definida. A dúvida mais pontual é se o hidrogênio será efetivamente aplicado nos modais do transporte.

“Pode ser melhor utilizado na indústria, nos serviços ou no transporte. Essa é uma decisão que vem antes de escolher em qual modal de transporte vai ser utilizado”, comentou, acrescentando que trata-se de uma opção de longo prazo no âmbito dos transportes.

Outra questão é essencial para a transição energética, além do combustível: a opção pelo coletivo.

“Uma viagem urbana em um carro SUV, em termos de consumo de energia, é equivalente a uma viagem de avião. Nós fazemos diariamente, no transporte individual, viagens urbanas aéreas. São mais de mil quilojoules por passageiro/quilômetro. Se você optasse pelo transporte coletivo, reduziria 10 vezes. Ou seja, um ônibus urbano consome um décimo da energia que consome um automóvel individual que normalmente está com uma pessoa só, significa reduzir 10 vezes a emissão de gás de efeito estufa”, explicou.

Brasil terá soja cultivada com desmatamento zero a partir de 2025, anuncia coordenador da Abiove

Perguntando sobre a preservação dos biomas quando se trata do cultivo de óleos vegetais e do aumento da demanda de biodíeseis, Pedro Moré Garcia, coordenador de Sustentabilidade da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), disse que o governo tem tido bastante ação e  que o próprio Ibama tem reforçado a fiscalização em relação ao desmatamento, auxiliando a indústria da soja no monitoramento da produção.

Apesar de o desmatamento em geral ter tido aumentos anuais, a participação da soja, principal matéria-prima para fazer o biodiesel, tem diminuído.

“As empresas têm compromissos internos, individuais, de controle do desmatamento na cadeia delas. Tem empresa que já anunciou na sua política de sustentabilidade, a maioria, de que a partir do ano que vem, a partir de 2025, vai ser desmatamento zero. Dessa forma, as empresas não vão originar a soja que vem do desmatamento, então o biodiesel que vai ser produzido vai ser com soja sem desmatamento”, anuncia.

O especialista salienta que existem vários produtos e várias possibilidades para produzir biocombustível Em 2023, o Brasil produziu pouco mais de 5 milhões de toneladas de biodiesel. Se o percentual for aumentando, essa produção vai precisar crescer para poder atender à demanda.. E temos mostrado que isso é possível sim”, destacou.

Pedro Garcia evidenciou a importância do setor dos biocombustíveis para o pilar S da agenda ESG por meio do incremento à agricultura familiar:

“A produção do biodiesel tem um papel importante, pois possibilita não só o benefício ambiental pela questão de emissões, mas também no social por conta de toda uma cadeia que é abastecida e que garante empregabilidade não tanto na indústria quanto na agricultura familiar”, destacou o representante da Abiove durante o webinar realizado pelo Integridade ESG.

Por Valéria Rehder, do Portal Integridade ESG

Foto: Divulgação.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

%d blogueiros gostam disto: