Liderança do transporte quer revolucionar setor de ônibus do Rio
O presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus do Município do Rio de Janeiro (Rio Ônibus), Cláudio Callak, em entrevista concedida na última quinta-feira (03/10), destacou as mudanças que vêm implementando no setor. “É a primeira vez, em 10 anos, que entregamos para a Prefeitura os balanços de todas as empresas de ônibus auditados”, enumerou entre as conquistas.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
BRT no Rock in Rio
“O BRT, o pouco tempo que fiquei lá na intervenção, fiz chamar a mesma empresa que faz o serviço “Primeira Classe” e montar a mesma estrutura, independente do valor da tarifa. A estrutura não tem nada a ver com a tarifa. Tanto que ela estava sendo repetida exatamente igual no BRT e aí depois o BRT foi transmitido para outro presidente, e seguiram o caminho que eles achavam que deveriam seguir.”
“Não é que nós deixamos o passageiro que atendemos o ano inteiro a pé por causa do Rock in Rio. A questão é muito maior, o festival acontece em várias cidades do mundo, em cidades importantes, e a gente não pode deixar o Rio de Janeiro passar vergonha em termos de transporte público. Não pode ficar aquém de Las Vegas, de Lisboa e assim por diante. Temos também que ter atenção ao usuário do Rock in Rio porque grande parte dele veio de fora do Rio de Janeiro; então isso tudo fomenta o turismo, e não sou eu – com o transporte público – que vou jogar o turismo da cidade pra baixo e o evento pra baixo.”
“Queremos montar esse ‘case’, essa estrutura do Rock in Rio para outras estruturas urbanas e beneficiar não só os frequentadores de um grande evento, mas a população em geral, em um futuro a curto prazo.”
Transparência
“Estamos tentando criar um aspecto de transparência. É a primeira vez, em 10 anos, que entregamos para a Prefeitura os balanços de todas as empresas de ônibus auditados. Estamos entregando, inclusive, para o Ministério Público do Estado do Rio. Demorou, doeu, tivemos de mexer na contabilidade de empresas, mudar contadores. Mas tivemos uma ajuda importante de uma companhia internacional no processo. Estamos trabalhando muito o lado da transparência. Mas isso não quer dizer que eu tenha controle sobre os empresários de ônibus ou sobre o que as empresas estão fazendo.”
“Tudo nosso é auditado pela Ernst & Young. Somos assessorados
pela FSB. Implantamos há quase dois anos um setor de compliance extremamente
ativo. E quando entender que o compliance tem 100% de efetividade, a ideia é
replicar isso para as empresas onde eu não tenho acesso do portão para dentro.
O programa de conformidade e integridade é essencial para o pleno funcionamento
do Sindicato. Foi a única exigência que eu fiz quando entrei aqui: ter auditoria
e o compliance.”
Parcerias
“É a terceira vez que me encontro com o presidente do Tribunal de Justiça, procurando acordos, conciliações. Estamos fazendo uma parceria com a Fecomércio, que é uma instituição muito grande, e com a Firjan também. Criamos uma Comissão de Mobilidade Urbana na Ordem dos Advogados do Brasil, para poder discutir com a população, advogados, juízes ou membros do Ministério Público, do transporte público. Vou lá botar a cara e falar.”
Operação Armadeira
“Os acontecimentos de ontem (Operação Armadeira) fragilizam a gestão da Fetranspor, mas uma coisa que tenho, aproveitando o prefeito aqui da cidade, como um missionário, eu tenho um ídolo. Quando a operação foi deflagrada, estava com o presidente do Tribunal de Justiça. Logo em seguida fui me encontrar com o prefeito; de manhã, tinha estado na Tupi-FM. Tenho dedicado 70% do meu tempo nisso, nesse diálogo. Por exemplo, não temos mais nenhum processo contra a Prefeitura. Fiz um acordo com a Procuradoria Geral do Município e acabamos com todos os processos de ambos os lados. Agora estou tentando a mesma coisa com o Ministério Público.”
“O que aconteceu com a Fetranspor foi um desdobramento do que já havia acontecido. Vemos com muita preocupação porque, sendo associado à Fetranspor, não queremos nenhum constrangimento patrimonial, porque as empresas aqui dependem do vale transporte que vem de lá. Espero que tanto o que houve da última vez quanto o que houve ontem sirvam de lição para a Fetranspor, para cada vez evoluir e se aprimorar mais.”
“Não vejo com tranquilidade, mas com a consciência de que não temos problemas para responder e que os problemas de lá, que já eram previstos, que sirvam de aprendizado para a Federação. Consertar, não conserta mais, mas que sirvam de aprendizado daqui pra frente. Mas já imaginávamos que ia acontecer o que ocorreu.”
Relação Rio Ônibus-Fetranspor
“Tenho trabalhado muito forte para dissociar a imagem do Rio Ônibus da Fetranspor, e não é uma questão de renegar. É uma questão de explicar a todo mundo que são entidades diferentes, com presidentes diferentes, com áreas territoriais diferentes. Faço como qualquer outro que estivesse no meu lugar. Tenho de dialogar com todo mundo, dizer qual é a nossa participação em termos de Fetranspor e assim por diante. Mas todo mundo olha o ônibus e diz: ‘Ah, é Fetranspor’. Porque realmente tem um nome, que engloba o estado inteiro. Qual a nossa correlação com a Fetranspor? Ela nos vende e faz a partição dos valores do vale transporte. O Rio Ônibus não fica com um centavo do vale transporte. Fica todo caucionado na Fetranspor.”
“A Fetranspor recebe tudo da bilhetagem caucionado. O passageiro anda de trem, metrô, ônibus e não se sabe de quem é aquele dinheiro. Depois da partição é que cada sindicato recebe aquilo que transporta. Nós não mexemos com dinheiro público em hipótese nenhuma. O Rio Ônibus é mantido por contribuição sindical de cada empresa associada.”
“Tento explicar para todo mundo que, ainda que façamos parte de um sistema chamado Fetranspor, a Fetranspor é uma entidade; o Rio Ônibus é outra e o Setrerj é outra. Todo dia acontece – infelizmente, pela quilometragem e por serem 6,5 mil ônibus andando pela cidade – um acidente, uma batida, um arranhão. E isso não quer dizer que vá fragilizar todo o trabalho que a Rio Ônibus está tentando fazer.”
“Já conseguimos, na maioria dos lugares, separar as imagens das duas entidades. O que não consigo obviamente, com 12 milhões de habitantes no Rio, é espalhar isso para todos. Somos um país que vive ainda uma relação capital-trabalho muito complicada. O empresário de ônibus ainda tem uma imagem muito negativa, mas me encontro com formadores de opinião, pelo menos duas, três vezes por semana. Sento para um café da manhã com um jornalista, para explicar tudo o que ele queira saber, tirar as dúvidas por pior que elas sejam, mas estou explicando.”
“Estamos aqui em termos de instituição para fazer uma virada, para ter direito, moral, capacidade de cobrar o Poder Público, o prefeito, o governador, o Judiciário e todo mundo que temos direito. E quanto à Fetranspor, espero que ela tenha sucesso de conseguir virar a mesa, aprender a lição e seguir a vida, porque dependemos dela. Todo mundo depende dela, que o metrô continue, o trem e assim por diante.”