Crise nos transportes: a solução parece cada vez mais distante

A Prefeitura do Rio anunciou que, a partir desta terça-feira (19/10), começará a multar os consórcios que não estejam operando com a frota determinada pela Secretaria Municipal de Transportes. O monitoramento será feito remotamente de segunda a sexta-feira nos horários de pico de manhã e à tarde. Aumentar a oferta de ônibus circulando para atender à população é uma iniciativa louvável. Entretanto, com a atual situação das empresas, essa pode ser uma medida sem efeito prático. Dos quatro consórcios responsáveis pelo transporte de passageiros no Rio, só o Internorte, ainda não entrou em recuperação judicial. O Trascarioca, Intersul e Santa Cruz aderiram ao regime, que é o último recurso para evitar a falência.

Para cumprir as exigências da Secretaria, as viações, que já vão mal das pernas, têm outro grande desafio pela frente – os constantes reajustes do diesel. O combustível já responde por 31% do custo arcado pelas operadoras. O percentual é superior aos gastos com a mão de obra, que é de 25%.

De acordo com a Associação Nacional de Transportes Urbanos (NTU), os aumentos aplicados este ano representam uma alta acumulada de 51% no preço do combustível, com impacto direto de 13,5% nos gastos das concessionárias, já pressionadas com a queda de demanda durante a pandemia e o congelamento das tarifas.

Sem condições econômico-financeiras não há multa que faça melhorar o serviço prestado para a população ou que reestruture o setor, que ainda nem se recuperou da crise iniciada antes da disseminação do coronavírus.

A preocupação dos gestores municipais deveria ser garantir a continuidade do serviço, para não deixar a população a pé. Em vez disso, apostam na licitação da bilhetagem digital – que só entrará em pleno funcionamento em 2023 – para evitar o colapso do sistema de transportes, que é iminente. Do jeito que o setor está definhando não há tempo a perder.

As medidas anunciadas até agora não atingiram o cerne do problema, que é viabilizar hoje a operação do sistema. Adiando a solução, a Prefeitura prejudica mais ainda os passageiros que sofrem para se deslocar diariamente.

Editorial

Denise de Almeida

Foto: Divulgação

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