O risco de paralisia da bilhetagem do Rio de Janeiro
A incompreensível postura da Prefeitura do Rio de Janeiro de licitar a bilhetagem do transporte carioca “na marra”, ignorando as vantagens da manutenção do atual sistema, deveria ser um assunto para o Ministério Público.
A medida coloca em risco o direito de ir e vir do cidadão carioca, tendo em vista que desmonta um processo em perfeito funcionamento e o troca por uma operação duvidosa, a ser realizada por um consórcio de empresas sem uma experiência que o qualifique. Na ausência de uma eficiente integração dos modais do transporte urbano, o Rio para. Ponto final.
A Prefeitura parece querer transformar a bilhetagem em uma commodity, colocando a prestação de um serviço essencial em um balcão de venda, como se o objetivo fosse apenas o preço de outorga maior. Ou seja, não interessa a complexidade do serviço e a possibilidade da “concessão a galope” criar um gravíssimo problema futuro de mobilidade urbana. Trata-se, inclusive, de uma questão de segurança nacional.
Não há nenhuma garantia que a bilhetagem, com o novo e inexperiente dono, não venha a se transformar em um Galeão, com enormes agravantes. O Aeroporto do Rio foi devolvido ao governo, com obras paradas e serviço piorado. Imagine algo similar acontecendo com a integração dos modais e a respectiva simplificação das passagens? Uma verdadeira tragédia urbana.
Até o momento, a operação desmonte da bilhetagem foi justificada pelo alcaide em função da existência de uma suposta “caixa-preta da bilhetagem”. Com o novo dono do negócio, segundo o Prefeito, seria mais fácil fiscalizar as cifras e os demais números da operação.
A recusa da Prefeitura em vasculhar as contas da Riocard torna ainda mais estranha a trama da bilhetagem. O Prefeito cassou a concessão do atual operador, impediu-o de participar da licitação, “vendeu” o negócio para um consórcio com experiência no mínimo discutível, sem que em nenhum momento tenha conseguido identificar qualquer problema operacional na gestão da Riocard. Ao contrário, o sistema funciona feito um reloginho.
Ninguém é contra a melhoria dos processos, a justificada troca de concessionária e a maior fiscalização das contas. Mas o açodamento da Prefeitura em realizar a troca do operador e a fragilidade da sua argumentação causa estranheza desnecessária e perigosa.
Não é improvável que a bilhetagem do transporte urbano do Rio ainda venha a dar panos para a manga, possivelmente até nesta próxima eleição, devido à ausência de explicações razoáveis.
Por enquanto o saldo é o risco de paralisia do cidadão e a estigmatização dos modais – dos ônibus principalmente – todos acusados, direta ou indiretamente, de serem operadores da “caixa-preta”. É o que temos.
Editorial Estação Rio
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