Editorial: Gestão do BRT é o palco de uma ópera bufa

A administração do BRT pela Mobi-Rio chega a ser caótica. O sistema recebe investimentos do Município atrelados a um longo e ineficiente processo de requalificação. Enquanto isso,  o vandalismo e furtos correm soltos nas estações, algumas delas pequenas para a demanda de passageiros. E haja deterioração das pistas, invasão dos corredores por carros de passeio, ônibus precários e insuficientes, entre outros problemas que não foram resolvidos desde a encampação do sistema, em 2021.

A morosidade para solucionar essas falhas ameaça a segurança e a vida dos usuários. Além de gerar uma improdutividade no sistema. Uma pequena enquete feita pelo Estação Rio com 125 passageiros do BRT confirmou o que se esperava: 100% dos usuários chegam atrasados no seu destino. Mas não só a ineficiência na gestão dos processos que apavora os reféns da ditadura de desacertos do BRT. Preocupa acima de tudo a tragédia das vidas perdidas, que falam por si só sobre a dimensão da catástrofe. De novembro de 2022 a janeiro de 2023, ocorreram três acidentes com vítimas por causa de articulados que apresentaram problemas no fechamento das portas. Morreram, respectivamente, um homem de 21 anos, um adolescente de 16 anos e uma mulher de 22 anos. A expectativa é que com a chegada dos novos ônibus, com tecnologia que não permite a circulação com as portas abertas, a segurança melhore e o intervalo entre os articulados diminua. Sim, a esperança é a última que morre. Mas a Prefeitura tem que provar que entrega o que promete. Por enquanto é muito papo e pouca gestão.

A renovação da frota de ônibus do BRT, que está sendo promovida pelo Município é necessária, a bem da verdade. Mas é uma iniciativa insuficiente, mas vistosa do que efetiva. A Prefeitura já gastou R$ 1,2 bilhão na compra de novos veículos. Nesta quarta-feira (1º/03), foram entregues 110 ônibus zero quilômetro, que vão rodar nas pistas exclusivas do corredor Transcarioca. Mas os coletivos antigos vão continuar operando nos corredores Transoeste e Transolímpica. No Transoeste, que ainda está em obras para a recuperação da calha, os novos articulados só chegarão em 2024. Certamente uma parcela desses gastos com “ônibus vedetes” poderia ter sido investida em debelar problemas crônicos do BRT, a exemplo da criminalidade e vandalismo.

Os coletivos velhos e precários do BRT que podem causar acidentes com mortes, serão deslocados para a Zona Oeste. Com isso, a população daquela região continuará refém de um serviço deficiente, arriscando a vida em ônibus sem segurança por falta de opção de transporte. Diga-se de passagem, a prefeitura montou um monopólio do BRT. Diz que vai privatizar tudo em nome da modernidade, economia de gastos e aumento da eficácia dos serviços. Mas quando? E quanta gente vai morrer até lá.

Por ora, a Mobi-Rio não consegue manter estações e terminais a salvo da ação dos vândalos. Em 2022, os agentes do BRT Seguro, responsáveis pelo patrulhamento do sistema, conduziram 1.479 pessoas à delegacia, por furto ou vandalismo. Os agentes também já aplicaram mais de 900 multas por flagrantes de calotes. Atualmente, a burla do sistema é de 20% do carregamento diário, sendo que a média diária de passageiros transportados é de 240 mil. Além do dinheiro gasto com as reformas para a reabertura das estações, os passageiros têm de caminhar mais para embarcar.

As colisões causadas pelas invasões de veículos de passeio na pista exclusiva podem tirar os ônibus de circulação por até dois dias. Essa pausa prejudica diretamente cerca de 2 mil passageiros. Desde janeiro de 2022, a Mobi-Rio registrou 225 casos de automóveis envolvidos em acidentes com articulados, uma média de sete batidas e quatro atropelamentos por mês.

Depois de concluída a requalificação do sistema, a operação do BRT será concedida à iniciativa privada. Pelo menos é o que se espera que ocorra em algum ponto futuro. A justificativa da Prefeitura é de que, com as melhorias, a concessão se tornará mais interessante tanto para o poder público como para empresários, atraindo mais interessados na licitação. A ver se surgirão candidatos dispostos a carregar a confusa condição gerencial do BRT. A inconstância da Prefeitura também é um fator de afastamento dos candidatos a uma futura licitação

Para a população é um longo tempo de espera custeado por um dinheiro público mal versado. A Câmara Municipal autorizou a captação de empréstimo junto ao BNDES ou Banco do Brasil no valor de R$ 1,8 bilhão, para cobrir gastos já realizados, como a compra dos ônibus, construção de terminais e garagens e reforma do corredor Transoeste. Além deste, a Casa aprovou em dezembro de 2021 e em novembro de 2022 dois empréstimos junto ao Banco Mundial que somam aproximadamente R$ 1,77 bilhão. É muito dinheiro. Mas por mais que seja, é insuficiente para pagar vidas que se foram. Do jeito que vai, o BRT terá uma cruzinha de óbito para cada ônibus novo  que seja entregue. Definitivamente, não é isso que serve à população.

Foto: Divulgação

Editorial Estação Rio

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