O ar-condicionado da discórdia e a falta de financiamento
A refrigeração da frota de coletivos do Rio deveria ter sido concluída em 2016. Não foi. Problemas políticos graves e estruturais das empresas forçaram o atraso. A questao foi se arrastando até que em 2020 veio a pandemia de Covid-19, que impôs o isolamento social. As restrições resultaram na queda de 51% da demanda de passageiros, segundo o Rio Ônibus, Sindicato das Empresas do setor. O calor ficou o mesmo no interior dos ônibus – verdade seja dita, alguns poucos foram climatizados – e se tornou efervescente no caixa das empresas
A crise que se abateu sobre os transportes, a maior de todos os tempo , foi amenizada com o aporte de subsídios pela Prefeitura, que proporcionou uma oferta maior de ônibus nas ruas. Foi um primeiro movimento de concórdia e bom senso. Contudo, município e empresas não chegaram a um acordo em relação à climatização da frota. Um imbróglio envolvendo subsídios cruzados, prazos inexequíveis, falta de planejamento e uma vontade imperial da prefeitura, que tinha uma porção de vingança pelos atrasos.
Decreto assinado pelo prefeito Eduardo Paes, e publicado no Diário Oficial, coloca a refrigeração dos coletivos como contrapartida para o recebimento integral do subsídio, cuja maior função é mitigar a situação de penúria das empresas de ônibus. Caso o ar-condicionado dos veículos esteja desligado ou com defeito, o consórcio é punido com a diminuição do auxílio pago pela prefeitura.
Para os passageiros, a viagem em veículos refrigerados é bem mais agradável e é um direito do usuário, senão adquirido, necessário, principalmente no Verão em que a temperatura ultrapassa os 40 graus. Entretanto, a punição aplicada às empresas pode prejudicar os avanços alcançados até agora pelo acordo judicial firmado entre o município, os consórcios e o Ministério Público Estadual, que possibilitou, por exemplo, a retomada de 71 linhas de ônibus.
As empresas ainda se recuperam da queda de receita provocada pela pandemia e o subsídio garantiu a manutenção do serviço para a população. Retirar parte do aporte financeiro nesse momento não assegura a refrigeração da frota e ainda ameaça a continuidade das melhorias. É um jogo de perde/perde. Ninguém sai ganhando.
Talvez uma proposta que deveria ser tratada com carinho pela Prefeitura, empresas e outros entes, tais como o BNDES, seria uma linha de financiamento especial e dirigida para a climatização, levando em consideração não cortes automáticos dos subsídios, mas a nova realidade pós pandemia das empresas de ônibus. Ou seja, separar os subsídios e o aspecto punitivo em caso de postergação da instalação dos aparelhos de ar condicionado. Nesse desse momento, em que todos estão à míngua, o risco de uma paralisia no transporte urbano é bem pior do que o calor dos diabos que está fazendo no Rio.
O Projeto de Lei para custear a gratuidade dos idosos no transporte público, que promete R$5 bilhões para este ano, outros R$ 5 bi para o ano que vem e mais outros R$ 5 bi para 2025 ainda tramita no Senado. Sem financiamento para a universalização da climatização e com corte de subsídio, o passageiro pode ficar sem o conforto do ar-condicionado nos ônibus e ainda por cima a pé.
Editorial Estação Rio
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