Investimentos e gestão do governo mudam sistema de transportes
Na avaliação da engenheira de Transportes e professora da Escola Politécnica da UFRJ, Eva Vider, um sistema de transporte público eficiente é aquele que atende as demandas da região em que está sendo projetado, com qualidade, quantidade e tarifas compatíveis. Para melhorar a mobilidade, as ações do governo devem seguir o estabelecido no Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio. Na questão tarifária dos ônibus, o ponto de partida para a discussão dos reajustes é a preparação de uma planilha, que reflita a realidade dos custos operacionais do setor.
Estação Rio: Quais os investimentos que devem ser feitos no sistema de transportes públicos da Região Metropolitana do Rio para atender a população?
Nós temos o Plano Diretor de Transporte Urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (PDTU-RMRJ), realizado pela Secretaria de Estado de Transportes, em 2012, que é atualizado a cada cinco anos. Os investimentos já estão previstos no PDTU, está tudo lá: Implantar a linha 3, do metrô até São Gonçalo, implantar os corredores metropolitanos, BRTs, melhorar o serviço dos trens, barcas, inclusive partes físicas, construir rodovias. O mais importante é que se tenha orçamento próprio definido anualmente para execução de tais projetos. Seguindo o PDTU, tudo estará indo muito bem.
Estação Rio: O que precisa ser feito para executar os projetos do PDTU?
Eva Vider: O governo estadual precisa tirar o PDTU do papel, e não mandar fazer outro. Reavaliar o plano, que foi atualizado em 2017, ante as propostas que já foram executadas. É preciso fazer isso por que vários projetos do PDTU foram concluídos com as obras das Olimpíadas de 2016 e da Copa do Mundo de Futebol de 2014.
É preciso revisar o PDTU e continuar investindo permanentemente, definir o orçamento, e não esperar para fazer alguma coisa. Não aguardar, por exemplo, um evento de grande porte, como foi o caso do Rio de Janeiro, para fazer alguma coisa. O evento é o PDTU, com propostas a longo e médio prazos.
O estado tem nas mãos pessoas boas, funcionários bons, tem planos prontos, tem muita coisa no colo se quiser fazer um bom trabalho, pode fazer, gastando pouco.
Estação Rio: Quais projetos poderiam melhorar o sistema de transportes?
Eva Vider: O transporte intermunicipal poderia ser muito melhorado. A Baía de Guanabara poderia ser mais utilizada, com a criação de novas linhas de transporte aquaviário pela Baía de Guanabara, que banha 11 municípios. O deslocamento para a Baixada Fluminense poderia ser feito pelo transporte aquaviário, evitando-se os congestionamentos na Av. Brasil e na Linha Vermelha.
Os corredores intermetropolitanos para a Baixada Fluminense têm de ser bastante trabalhados, precisam de atenção. Construir o metrô na Avenida Brasil, que suporta, em média 800 mil viagens por dia. Não há ônibus que resista, e a via é contramão para o sistema de trens.
O corredor Transbrasil deveria estar pronto há muito tempo e ser construído sobre trilhos. Se não for sobre trilhos, a pista tem de ser de concreto porque já viu que o asfalto no Rio derrete no verão. É jogar dinheiro fora.
É preciso concluir a Linha 4 do metrô e construir a Linha 3 até São Gonçalo. Tem de ter todas as opções de modais para o usuário escolher. Atender também quem quer ir de bicicleta, com local decente para guardá-las, faixas exclusivas para trafegar e integração com outros modais.
Estação Rio: O que mais impacta a fluidez do tráfego?
Eva Vider: A fluidez é impactada diretamente pela falta de educação no trânsito. É preciso começar a educar desde cedo. Faço questão de dizer que a educação no trânsito é fundamental para a redução de acidentes e melhoria do fluxo de trânsito. As pessoas ficam no celular, não andam, dão uma paradinha para olhar não sei o quê, tumultuam tudo, o tempo de viagem aumenta. É um caos por causa de falta de educação no trânsito, e ninguém investe nisso. Não aplicam as multas convenientes. A Lei Seca tem multas de valor baixo. As provas para tirar a carteira de motorista têm de ser mais rigorosas. As pessoas aprenderam a usar o cinto de segurança na raça, por medo da punição. Infelizmente é assim.
Tarifas dos ônibus
Estação Rio: Os usuários reclamam que as tarifas de ônibus são caras e o serviço é ruim. Já os empresários do setor alegam que os reajustes concedidos não cobrem os custos de manutenção da frota e que, por essa razão, não têm como investir no sistema. Qual seria a solução para esse impasse?
Eva Vider: Primeiro, para ter mais eficiência, o governo precisa monitorar e fiscalizar a qualidade dos serviços e a quantidade, verificando se o que está sendo proposto nos contratos de concessão está sendo obedecido.
Segundo, ter em mãos uma planilha de custos atualizada anualmente, que reflita a realidade do setor, com números corretos, para poder discutir os reajustes com os empresários. Hoje o estado não está conseguindo nem discutir o reajuste. A decisão está indo para a esfera da Justiça. A Justiça tira R$ 0,10, bota R$ 0,10. Não é assim que funciona o sistema. O trabalho da Justiça não é o de calcular a planilha.
E terceiro, ter uma política tarifária compatível com a situação financeira da população atendida.
Estação Rio: Quais as mudanças necessárias na política tarifária?
Eva Vider: O modelo de tarifa única do Rio não atende porque as planilhas tarifárias não estão sendo atualizadas anualmente como têm de ser. A implantação do BRT muda completamente a configuração do sistema de transporte dos ônibus. Como a planilha não é recalculada em função dessa mudança, não se tem uma atualização correta. Com isso, não dá para pensar em nada. Fica parado e vai para a Justiça resolver se bota R$ 0,10, se tira R$ 0,30. Fica nessa coisa que estamos assistindo aqui no Rio.
Se me perguntam se é justo colocar R$ 0,10, respondo que não sei, porque sem a planilha não sei quanto custa o serviço. Por exemplo, se você fizer um bolo e não souber quanto gastou, não vai saber por quanto vai vender? É como uma receita de bolo, que tem o seu custo.
Estação Rio: A licitação das linhas de ônibus intermunicipais melhoraria a gestão do sistema?
Eva Vider: O contrato ainda é de permissão. As linhas são permissionárias. É preciso modernizar, atualizar, os tempos mudaram. Não é questão de certo ou errado, é se que fica perdido no tempo e no espaço. Não tem nem como fiscalizar porque as regras não estão bem estabelecidas. Os tempos são outros, a demanda já mudou, os preços mudaram. É um modelo totalmente arcaico e desatualizado para a realidade da segunda maior cidade do país.
Estação Rio: Qual seria o melhor acordo entre empresários e governo para custear a gratuidade das passagens?
Eva Vider: Quem custeia a gratuidade é o passageiro pagante. Na planilha, entram as gratuidades e os pagantes. O cálculo abrange todos os passageiros. O custo total é dividido só entre os pagantes.
Se o seu bolo custa R$ 30 e você tem 30 pedaços, com 30 pessoas para pagar, vai custar R$ 1 por pessoa. Mas, se você sabe que 10 pessoas vão deixar de pagar o bolo, porque o pedaço será gratuito, as outras 20 vão ter de pagar o bolo todo. Serão R$ 30 divididos por 20. Essa analogia com o bolo dá para perceber bem como funciona.
O governo banca algumas gratuidades, algumas têm subsídio. Mas quando o governo inventa uma gratuidade para algum segmento no próximo reajuste de tarifa acaba entrando no cômputo geral, e vai para o bolso dos passageiros pagantes. Há também o vale transporte, que é um subsídio cruzado, porque a empresa paga uma parte e os empregados outra.
Bilhetagem eletrônica
Estação Rio: Quais são os obstáculos técnicos e econômicos para a implantação da integração (interoperabilidade) do sistema de bilhetagem eletrônica?
Eva Vider: A implantação demora porque cada um se acha dono do seu sistema, e nós não temos um órgão concedente gestor que consiga organizar isso. Quanto menos o governo bota a mão no sistema mais complexo se torna.
Já tivemos uma agência metropolitana na Secretaria de Estado, que tentou várias vezes, mas o Conselho não tem os dados, cada um segura seus dados, e aí temos essas integrações parciais. O metrô tem integração com alguns ônibus; temos a integração do metrô com trem, que funciona muito bem; e integração entre dois ônibus. Todas são pontuais. Tem de ter uma integração única porque o Rio de Janeiro é único. Aqui é o único lugar em que a tarifa única não é única.
O modelo de integração é confuso no Rio por falta de gestão. O sistema de integração no Rio é misto por falta de um órgão de gestão, que capitaneie isso, que tenha as planilhas, que determine as decisões de modo correto, segundo os contratos, para ninguém sair perdendo, para que a população não saia perdendo, para o governo fazer também a sua parte.
Estação Rio: Qual é o papel do governo nessa gestão?
Eva Vider: Trabalhar dentro da própria estrutura existente todas as questões permanentemente. É o governo botar no colo a questão: estudar, trabalhar, definir, determinar, consertar, acompanhar e consertar, sempre quando for necessário o tempo todo. Porque o sistema é dinâmico. Basta que o bairro mude sua característica, de residencial para comercial ou industrial, muda também para efeito de transporte. Essas mudanças urbanas na característica da cidade afetam demais a demanda de transporte e a quantidade de pessoas que precisam fazer o movimento. Isso afeta demais os custos.
Cidade do Rio
Estação Rio: Qual o maior problema de mobilidade no Rio?
Eva Vider: A cidade doRio é polo de atração. Pessoas de outros municípios, da Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo trabalham aqui. A Prefeitura tem a gestão do sistema municipal de transportes. Entretanto, do total de viagens realizadas no Rio, só 30% acontecem dentro da cidade (Tijuca-Barra, Tijuca-Centro, Botafogo etc.). Os outros 70% representam deslocamentos intermunicipais, que são geridos pelo Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Detro). Cada um quer fazer uma coisa e não se falam. A cidade do Rio sofre com isso, não está suportando o excesso de viagens intermunicipais.
Estação Rio: Qual a solução?
Eva Vider: A Região Metropolitana tem de ser olhada como Região Metropolitana, e o Rio faz parte dela, porque absorve na cidade 70% do movimento que vem de fora. O problema tem de ser tratado em âmbito metropolitano. É preciso “metropolizar”. Para funcionar, tem de ter recursos, força, para cumprir o PDTU.
Estação Rio: O prefeito Marcelo Crivella quer restringir a circulação dos ônibus no Centro do Rio. A medida visa aumentar o número de usuários do VLT. Qual a sua opinião sobre essa decisão do prefeito?
Eva Vider: Do ponto de vista do mundo todo a ideia é tirar os fluxos de trânsito das cidades. Não é preciso que os ônibus fiquem circulando na cidade desde que se tenha um sistema integrado em que as pessoas vão poder continuar sua viagem, sem pagar de novo, que vai ser o caso do VLT. Mas ainda há questões como: se o VLT vai aos lugares aonde essas pessoas vão e de onde vão ser tirados os ônibus.
A rede tem de abranger a maioria dos destinos finais das pessoas. Se tiver bem definido o número de pessoas que desembarcam que vão para a Cinelândia, para o Aeroporto Santos Dumont etc. Se o sistema do VLT for adequado para atender esse pessoal, acho excelente.
Para a cidade é muito bom reduzir a quantidade de ônibus que circulam no Centro, para as pessoas que trabalham na cidade, para a despoluição, mas o VLT precisa ir para onde as pessoas vão.
Com a conclusão das obras do BRT TRANSBRASIL, consideradas as estações trevo das MARGARIDAS e TREVO DAS MISSÕES será oportuno fazer a conexão dos passageiros q vem pela Dutra e os q vem pela Washington Luiz, fazendo com q os ônibus q vem da baixada por essas rodovias RETORNEM sem pegará Av Brasil por ser desnecessário já q o BRT TRANSBRASIL preencherá o itinerário até o centro da cidade.?