Passagem compromete mais de um terço da renda das famílias

Pesquisa mostra que famílias que moram em Santa Cruz ou na Baixada Fluminense gastam mais com a tarifa de transporte.

Levantamento foi feito em 22 municípios da Região Metropolitana do Rio com empresas de ônibus. Moradores da periferia são os que mais gastam com passagens. Já em áreas mais privilegiadas, há pessoas que se pegarem dois ônibus por dia vão gastar menos de 5% da renda mensal.

Os dados constam do Mapa da Desigualdade 2020, levantamento lançado nesta quarta-feira (15/07) pela Casa Fluminense, organização que estuda políticas públicas para a redução das desigualdades.

Segundo o pesquisador Guilherme Braga, na região metropolitana, os empregos formais estão localizados principalmente no Centro do Rio, na Zona Sul, na Barra da Tijuca e em Jacarepaguá. “Tem uma sobreposição muito perversa na região metropolitana, pois as pessoas que vivem nas regiões onde o custo da tarifa é proporcionalmente maior em relação à sua renda também são as que levam mais tempo no transporte público todos os dias.”

O levantamento mostra que, na região metropolitana, os niteroienses vivem, em média,12 anos a mais que os moradores de Queimados. Na capital fluminense, a diferença na expectativa de vida entre quem mora em São Conrado e quem mora na Rocinha, bairros vizinhos, é de 23 anos. A expectativa de vida em São Conrado é de 75 anos e, na Rocinha, de 52 anos

“Sobre saúde e educação, por exemplo, o município de Japeri, com 100 mil habitantes, não possuía nenhum tipo de leito hospitalar público até 2019. Entre as cidades que tinham, São João de Meriti é a que pior cobria sua população, com dois leitos a cada 10 mil habitantes. Na agenda de educação, entre os 22 municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro, só a capital fluminense atingiu a nota média do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] 2017 das cidades brasileiras”, afirmam os pesquisadores.

“O retrato dessas desigualdades se materializa localmente em áreas privilegiadas que provêm infraestrutura e bem-estar para os seus moradores, enquanto as periferias, subalternizadas, vivem em contextos profundos de vulnerabilidade pela falta de acesso a direitos sociais básicos, garantidos constitucionalmente”, disse o coordenador do estudo, Vitor Mihessen.

Para a consultora da pesquisa, Paula Moura, os indicadores socioeconômicos do Mapa da Desigualdade bordam o perfil populacional que é preferencialmente atravessado por essas desigualdades.

“No processo da pesquisa, vimos o quanto o racismo e sexismo desempenham papel fundamental para a perpetuação da vulnerabilidade social. Isso fica evidente quando vemos que, dos 22 municípios da região metropolitana do Rio, três não têm ou não responderam sobre a existência de centro de atendimento à mulher. E, ainda, quando analisamos que, na mesma região, o salário das mulheres negras equivale à metade da remuneração recebida pelos homens brancos desempenhando a mesma atividade econômica”, afirmou Paula.

Foto: divulgação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

%d blogueiros gostam disto: